Transferência de tecnologia para produção de peixes deve ter foco no setor industrial

As pesquisas nesta área estão bastante avançadas para a tilápia, tambaqui e cachara

Os resultados de pesquisas ligadas ao aproveitamento agroindustrial da aquicultura brasileira devem ser transferidos ao setor industrial, de pequeno ou grande porte. A conclusão foi apresentada na tarde de terça-feira, dia 1º de março, durante workshop de avaliação de resultados do projeto em rede Aquabrasil – “Bases Tecnológicas para o Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura no Brasil”.

As apresentações e levantamento de demandas para uma segunda fase do Aquabrasil terminam nesta quarta, dia 2, em Corumbá (MS), onde estão reunidos cerca de 40 pesquisadores ligados à nutrição, manejo, sanidade, melhoramento genético e aproveitamento agroindustrial de peixes. No total, o projeto envolve mais de cem pesquisadores.

Desde que começou, em 2008, o projeto Aquabrasil gerou resultados científicos e tecnológicos. O pesquisador Jorge Antonio Ferreira de Lara, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apresentou resultados na área de aproveitamento agroindustrial.

Segundo ele, algumas das tecnologias geradas foram cortes especiais padronizados de filés de tambaqui, filé de cachara defumado, produtos derivados de resíduos de filetagem da tilápia, entre outros.

A pesquisadora Maria Luiza Souza Franco, da UEM (Universidade Estadual de Maringá), falou do aproveitamento de resíduos de filetagem, como carcaça, aparas e pele. “Da carcaça da tilápia é possível produzir farinha, utilizada em doces, salgados, massas e derivados de carne. Ainda da carcaça extrai-se o óleo, que pode gerar a farinha defumada, já testada na produção de pão de queijo”, afirmou.

Da CMS (Carne Mecanicamente Separada), foi possível produzir farinha, quibe assado e espetinho tipo kafta. Das aparas faz-se lingüiça (com diferentes técnicas de defumação) e fishibúrguer defumado, além de hambúrguer e almôndegas. Utilizando a pele deste peixe, os pesquisadores testaram a gelatina, o curtimento do couro e a produção do torresmo ou da pele desidratada temperada.

Essas pesquisas agregam valor a um produto que seria descartado, permitem o enriquecimento nutricional e o aumento do consumo do pescado, de acordo com Maria Luiza.

Outros produtos obtidos a partir dos resíduos foram o fertilizante de farinha de camarão branco e a silagem. Fabíola Fogaça, da Embrapa Meio Norte, disse que a longo prazo o adubo orgânico poderá ser utilizado na produção orgânica.

No momento, as pesquisas estão voltadas aos substratos para uso em produção de hortaliças. Segundo Fabíola, trata-se de um produto difícil no mercado, caro e que precisa de melhorias na qualidade. “Estamos ainda preparando este substrato a base de resíduos de camarão e fazendo sua caracterização.”

MELHORAMENTO

Ângela Legat, pesquisadora da Embrapa Meio Norte (PI), apresentou resultados ligados ao melhoramento genético. Ela disse que o projeto Aquabrasil consolidou o programa de melhoramento iniciado em 2005 na UEM. “Fortaleceu as parcerias público-privadas”, comentou.

A principal demanda da iniciativa privada que vem sendo atendida por essas pesquisas se relaciona ao ganho de peso de algumas espécies. Engordando mais rápido, reduz-se o tempo de criação e o custo de produção, barateando o produto final ao consumidor.

As pesquisas nesta área estão bastante avançadas para a tilápia, tambaqui e cachara. Já os estudos relacionados ao camarão branco devem avançar a partir deste ano, pois a infra-estrutura necessária acaba de ser criada.

Um exemplo de avanço do conhecimento aplicado ao melhoramento é a criopreservação, feita com nitrogênio líquido, que permitirá o transporte adequado de sêmen de peixes, sem a necessidade de transporte do reprodutor.

RASTREABILIDADE

Um dos pontos destacados na tarde de terça-feira no workshop foi a necessidade de rastreabilidade para a cadeia produtiva de pescados. Neste aspecto, a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo), está bastante avançada.

Lia Ferraz, representante desta instituição, disse que os estudos para a rastreabilidade da cadeia da tilápia estão em fase final (elaboração de artigos). Trata-se de um histórico do processo produtivo que se estabelece e que aumenta a confiança do consumidor na cadeia produtiva.

O levantamento começa na avaliação da qualidade da água, passa pelo processamento padronizado e termina na distribuição dos resíduos. A tendência, segundo Lia, é que o próprio governo passe a estimular a rastreabilidade para a exportação, já que alguns mercados externos já têm essa exigência.

Lia disse que na próxima fase do Aquabrasil, a ideia é expandir os estudos sobre a rastreabilidade para outras espécies. Um software com todas as informações está sendo criado na Embrapa Informática Agropecuária, em Campinas (SP) para facilitar o acesso a esse conhecimento.

 

Ana Maio
Jornalista – Mtb 21.928
Área de Comunicação e Negócios-ACN
Embrapa Pantanal
Corumbá (MS)

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