Se estão aparecendo, é porque estão se reproduzindo. E são peixes juvenis.
O último monitoramento do Canal da Piracema, concluído na semana passada pela Divisão de Reservatório da Itaipu, reservou uma boa surpresa aos responsáveis pelo trabalho. Espécies até então raras no sistema de transposição começaram a aparecer com maior frequência. É o caso, por exemplo, da tabarana, também conhecida como dourado branco. Outras duas foram avistadas pela primeira vez no canal: uma espécie de tuvira e outra de cascudinho.
“Se estão aparecendo, é porque estão se reproduzindo. E são peixes juvenis. Isso indica que as condições de reprodução, tanto no canal como na região do Rio Paraná e de seus tributários, são cada vez mais favoráveis”, comentou o engenheiro agrônomo André Luiz Watanabe, um dos responsáveis pelo trabalho.
A tabarana, assim como o piracanjuba – que aparece no canal há mais tempo –, constam na lista vermelha de animais em risco de extinção da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês). As novas espécies apareceram ao lado de outras mais comuns no canal, como o próprio dourado, a piapara, a corvina e o peixe-cachorro, entre outras.
“Acho que as espécies estão se desenvolvendo bem a jusante (do Rio Paraná) e as condições do canal têm atraído outras mais, principalmente nos últimos 15 meses. Isso comprova a eficiência do canal para atração de peixes”, analisou o médico veterinário Domingo Fernandez.
Segundo ele, em oito anos, perto de 170 espécies já foram identificadas no canal. O número representa quase 90% de todas as 190 identificadas na região. “O canal atrai todas as espécies migradoras da região e várias não migradoras, como a própria tuvira e o cascudinho”, complementa.
Consultor do projeto, José Pezzi, doutor em Zoologia pela PUC-RS, com ênfase em ictiologia, disse que o surgimento de novas espécies reflete a condição única dos rios da América do Sul e América Central, que concentram a maior variedade de peixes de água doce do mundo. Somente as espécies conhecidas somam mais de cinco mil.
Pesca científica
O monitoramento sistemático, que envolve levantamento de espécies e pesca científica, começou em 2004, apenas dois anos após a criação do sistema de transposição de peixes. O objetivo é avaliar a biodiversidade no canal, que tem 10,3 quilômetros de extensão.
Segundo Watanabe, o monitoramente é feito quatro vezes ao ano, três no período da Piracema (época de reprodução dos peixes, de outubro a fevereiro). Durante quatro dias seguidos, e a cada seis horas, os técnicos da Itaipu recolhem os peixes em diferentes pontos do canal. Neste último trabalho, foram recolhidos cerca de 700 exemplares, de diferentes pesos e tamanhos.
Análise
Exemplares de espécies mais resistentes são medidos, pesados e recebem um “dart tag” – tira plástica com informações e a identificação do peixe. Depois, são soltos no canal. Assim, numa próxima recaptura, é possível saber quanto o peixe cresceu e qual distância percorreu no período.
Já os peixes que não sobrevivem são igualmente medidos e pesados e têm o conteúdo estomacal analisado em laboratório, para saber que tipo de alimentação estão consumindo e seu estágio de reprodução.
com info Itaipu Binacional