Pescadores do Potengi estão tendo que deixar o seus barcos de pesca ancorados pois estão impossibilitados de pescar
O parecer emitido pelo Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar) confirma a conclusão do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (Idema) sobre o desastre ambiental ocorrido há um mês no rio Potengi: toneladas de peixes e crustáceos morreram por falta de oxigênio em decorrência da elevada carga de matéria orgânica lançada pela carcinicultura em um curto espaço de tempo.
‘‘Este consultor é de opinião que a mortandade dos organismos aqüáticos na região tenha sido provocada pelo grande aporte de matéria orgânica lançada, em um curto espaço de tempo, pelos efluentes de carcinicultura, provocando o consumo do oxigênio dissolvido presente nas águas e conseqüentemente a morte desses animais por asfixia’’, diz um trecho do parecer assinado pelo professor do Labomar, Luiz Drude de Lacerda.
O documento do Labomar, cujo protocolo de recebimento consta do dia 24 de agosto (sexta-feira), foi apresentado ontem ao Diário de Natal pelo diretor geral do Idema, Eugênio Cunha. Contendo 11 páginas, o parecer leva em cosideração pontos como a capacidade de suporte do estuário, parâmetros de carga gerada por atividades no entorno do rio, potencial de diluição de cargas poluidoras e dados de campo obtidos após o evento.
A avaliação conclui que o processo de asfixia dos animais foi acelerado e facilitado pelas elevadas concentrações de amônia, cuja toxidez ocorre justamente pela diminuição da capacidade de utilização do oxigênio pelos organismos. ‘‘Fica evidente a necessidade urgente de uma atualização das emissões de contaminantes para a bacia estuarina e a instalação de medidas de minimização de cargas’’, finaliza a conclusão do parecer.
‘‘Desde o início o Idema insiste que a elucidação não podia ser feita em 48 horas. As análises por si só não identificavam as causas’’, afirmou Eugênio Cunha, mostrando o resultado do último parecer que faltava ser apresentado sobre o caso. A avaliação feita pelo Idema com base nos laudos da UFRN e do Cefet a empresa de carcinicultura Veríssimo e Filhos LTDA lançou efluentes de um viveiro de 28 hectares por um período de 19 horas.
A tese do Idema se apóia também no fato de que não foi constatado nenhum outro tipo de descarte de efluentes diferentes daqueles já existentes antes do evento da mortandade dos peixes. O que também contribuiu, segundo a análise dos técnicos do Idema, é que no dia em que houve a descarga de efluentes a maré estava com o nível baixo, diminuindo assim a capacidade de diluição da matéria orgânica no trecho onde ocorreu a mortandade.
PESCA
Apesar de os índices verificados no laudos mostrarem que não existe prejuízo quanto ao consumo humano de peixes do rio, Eugênio Cunha disse que a pesca fica proibida por mais três meses para ser realizado um monitoramento por precaução. ‘‘Vamos monitorar a carga de matéria orgânica lançada no rio’’, explicou o diretor. O trabalho será executado pelo Idema em parceria com o Departamento de Química e Oceanografia da UFRN e pelo Cefet.
Memória
Uma enorme quantidade de pescado apareceu morto no rio Potengi no dia 29 de julho e se amontoou em áreas conhecidas como ‘‘areado’’. Os pescadores ficaram desesperados em verem a sua fonte de renda ameaçada. Como o Ibama determinou a proibição da pesca por 30 dias, os pescadores passaram a receber do governo do Estado cestas básicas, dentro de uma medida assistencial.
No dia 10 de agosto, o Instituto de Desenvolvimento Econômico e do Meio Ambiente (Idema) apontou a empresa de carcinicultura Veríssimo e Filhos como a causadora do acidente ambiental. O Idema argumentou que a empresa efetuou uma despesca de 19 horas no final de semana do acidente, despejando no rio uma grande quantidade de matéria orgânica, ocasionando a morte dos peixes por asfixia. A empresa nega a sua reponsabilidade e efetuou estudos próprios para refutar a tese do Idema.
Viktor Vidal
Da equipe do Diário de Natal