Com a anchova protegida, pescadores têm que optar pelo turismo e captura de garoupa e lula
As redes amontoadas num canto do rancho nos dias de verão não significam que os pescadores da Praia Armação, em Florianópolis, estão desfrutando dos prazeres da vida.
É período de defeso da anchova, e a desobediência pode custar a licença profissional. No entanto, como o salário mínimo pago pelo governo neste período não garante o sustento, eles têm que se virar. Trabalhar com turismo e apelar para o anzol são as alternativas dos pescadores.
João Esperando, 48 anos, diz que pescar lulas e garoupas – animal que estampa as notas mais desejadas do país, as de R$ 100 – são as atividades mais comuns. O peixe dá muito trabalho para ser capturado. O sujeito vai para o mar no final da tarde e fica até o dia raiar. Pelo menos a isca é fácil de conseguir: até vísceras servem.
– Garoupa é um peixe esfomeado – resume João.
A espera para sentir uma fisgada é longa, e terminar a jornada de trabalho com três peixes é sinônimo de sucesso. Garoupas são peixes grandes, e esta quantidade rende 50 quilos. Se a venda for direta ao dono da peixaria, dá para pegar R$ 15 no quilo. Se tiver algum atravessador, um pouco menos. O resultado da noite no mar – cerca de R$ 750 – demonstra que o esforço não é em vão.
Na captura da lula é o inverso e não existe tédio. O fruto do mar aparece em cardumes entre dezembro e março. Os pescadores usam o zangarilho, espécie de anzol adaptado. Vários são lançados e, enquanto o pescador tira um da água, já tem dois esperando. O ritmo alucinante de trabalho, no entanto, não tem a produtividade da garoupa. Cada animal pesa míseros 80 gramas. Saber que são tirados 200 quilos do mar dá a dimensão do quanto trabalham os dois homens que viram a madrugada no barco. Parece história de pescador, mas ele garante que é a mais pura verdade.
A outra opção é trabalhar com turistas. A Praia da Armação é ponto de saída para a Ilha do Campeche. Cada pescador recebe R$ 30 por pessoa e só zarpa com pelo menos seis passageiros no barco.
À primeira vista, parece negócio bastante rentável, mas João explica que não é bem assim. O problema principal é a grande concorrência, pois existem 26 embarcações cadastradas para atuar com transporte na Praia da Armação.
Diário Catarinense