A crise no sector das pescas está a afectar duramente algumas comunidades algarvias. Santa Luzia, no concelho de Tavira, é a mais atingida. Quase metade da população depende da pesca do polvo, mas o molusco está a rarear cada vez mais nas águas da região. As capturas caíram para menos de metade no corrente ano (em 2006 já se verificara uma diminuição de 46%), deixando centenas de famílias numa situação social muito complicada.
De acordo com dados da Docapescas, a lota de Santa Luzia foi a que registou uma maior quebra percentual no primeiro semestre deste ano em todo o País. Foram vendidos menos 186 mil quilos de polvo do que em idêntico período do ano passado, o que significa uma descida de 57,2%. A nível regional, a redução no volume de pescado foi de 8%.
“Cerca de 40 por cento da população vive da pesca do polvo e, se nada for feito, vai ser o pandemónio”, afirma o presidente da Junta de Freguesia local, Carlos Rodrigues, adiantando que “mais de meia centena de famílias recorrem actualmente ao rendimento social de inserção e há ainda muitas outras a necessitar dessa assistência”.
A Junta faculta o apoio de uma psicóloga, a qual não tem mãos a medir, dando consultas a quase uma centena de famílias. É que, como refere Carlos Rodrigues, “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.
Gilberto Machado, pescador e vice-presidente da associação representativa do sector no concelho de Tavira, confirma que há famílias em grandes dificuldades: “Só não há fome porque existe grande interajuda e as mercearias ainda permitem o ‘fiado’”. O presidente da Junta sublinha “o papel social que as pequenas mercearias têm desempenhado”, motivo pelo qual se opõe à abertura de grandes-superfícies na freguesia.
A solução para a falta de polvo passa, segundo os próprios pescadores, pela aplicação de um período de defeso, mas reclamam apoios do Estado.
“Nós estamos numa situação muito difícil e não vivemos do ar, pelo que não podemos parar se não formos subsidiados. Os espanhóis têm apoios mas o Governo português diz que não há dinheiro…”, refere Gilberto Machado, que confessa “não vislumbrar sinais de melhoria no horizonte”.
José Carlos Eusébio
Fonte = Correio da Manhã