Sobrepesca têm diminuído número de peixes predadores nos oceanos, permitindo que os pequenos se multipliquem ilimitadamente
Uma nova pesquisa realizada pela University of British Columbia (UBC) confirmou o que ambientalistas já acreditavam que vinha acontecendo há muitos anos: a sobrepesca está diminuindo a quantidade de peixes predadores nos mares.
De acordo com os novos dados, nos últimos cem anos o número de peixes de grande porte como o bacalhau, o atum e a garoupa caiu 40%. Com isso, os peixes pequenos como a anchova, a sardinha e o capelim não encontram predadores naturais e podem se multiplicar sem obstáculos, alterando o equilíbrio dos ecossistemas marinhos.
“A sobrepesca teve um efeito de ‘quando o gato sai, os ratos fazem a festa’ em nossos oceanos”, afirmou Villy Christensen, professor do Centro de Pesca da UBC que apresentou a pesquisa na conferência anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência. “Removendo os [peixes] grandes, predadores do oceano, os peixes pequenos, da base da cadeia alimentar, puderam prosperar”.
Para realizar a pesquisa, Christensen e sua equipe analisaram mais de duzentos modelos de ecossistemas marinhos e extraíram mais de 68 mil estimativas da biomassa de peixes de 1880 a 2007.
O resultado do estudo mostra que o cenário de redução de peixes grandes parece ter se agravado nos últimos anos. Segundo o cientista, 54% da queda da quantidade de peixes predadores ocorreram nos últimos quarenta anos, o que poderia indicar que o evento está acontecendo cada vez mais rapidamente.
“É um ecossistema muito diferente que nós estamos vendo”, disse o pesquisador. “Nós estamos transformando oceanos selvagens em um sistema que é muito mais parecido com uma fazenda aquática”.
Além da pesca predatória, outro fator pode agravar ainda mais esta situação. Christensen afirma que se a pesca excessiva for combinada com os efeitos das mudanças climáticas, o número de peixes pode ser menor ainda. “Nosso estudo indica que de fato poderemos dobrar a ‘praga’ com as mudanças climáticas. Significa que quanto maiores as temperaturas das águas… menos peixes serão encontrados no oceano”.
Para Reg Watson, pesquisador da UBC, “humanos sempre pescaram. Mesmo nossos ancestrais pescavam. Só que nós somos muito melhores nisso agora”. Conforme o cientista, em 2006 foram consumidas 76 milhões de toneladas de frutos do mar, o que significa que “sete trilhões de indivíduos foram mortos e comidos por nós ou nossos animais domésticos. Parece que nós estamos pescando mais com mais esforço, mas com um mesmo ou pior resultado e isso tem que nos dizer algo a respeito da saúde dos oceanos”, afirmou.
Apesar do aumento no número de peixes pequenos, a quantidade destes é insuficiente para continuar mantendo o fornecimento mundial. Sobretudo nos países asiáticos, onde o consumo de peixes é alto devido à cultura e à dieta, a população e, conseqüentemente, a demanda pelo alimento, é cada vez maior, o que não permite que os cardumes tenham tempo suficiente para se recuperarem.
Para se ter uma idéia da quantidade de peixe que consumimos, cerca de 20% da nossa ingestão diária de calorias provém da carne, e desse índice, aproximadamente 12% é de carne de peixe.
Jacqueline Alder, do programa ambiental das Nações Unidas, sugere que o mundo precisa de uma diminuição urgente no número de barcos de pesca e de dias disponíveis para pesca para dar tempo para que os cardumes aumentem.
“Se nós pudermos fazer isso imediatamente nós veremos uma redução na captura de peixes. Isso dará a oportunidade das reservas de peixes de se recuperarem e expandirem suas populações”, ressaltou Alder.
Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais