Avanços são marcados pelo retorno de diversas espécies à região de Paraty, lucratividade dos pescadores e fechamento de parcerias
Antes ocupada por pescarias irracionais, que provocaram o desaparecimento de espécies marinhas na região, a baía de Paraty (RJ) é hoje referência na exploração sustentável do potencial aqüícola. Onde a pesca predatória e o arrasto dizimavam a população de peixes, tanques-redes agora promovem um sistema de cultura que, além de baratear a prática, agregam valor ao produto e permitem o retorno de espécies ao local.
A implantação do sistema na região é uma das iniciativas do Projeto Robalo, uma ação do Instituto Arruda Botelho (IAB) que tem por objetivo preservar a riqueza marinha de Paraty e gerar renda para a comunidade pesqueira local. O trabalho já surte efeitos sensíveis no meio ambiente regional e no bolso de quem vive na região.
De acordo com o responsável pelo projeto, o técnico em aqüicultura Alexandre Gomes Fonseca, o retorno de espécies marinhas à região é notável. “Estamos vendo novamente cardumes de robalos, vermelhos, garoupas, badejos e outras espécies que tinham desaparecido daqui”, explica.
Este fenômeno se dá graças à utilização de tanques-redes que funcionam como armazenadores submersos e berçários marinhos. Neles, galhos de podas de árvores e vegetação simulam um ambiente aquático natural e geram resíduos orgânicos que alimentam peixes dentro e fora do tanque – atraídos pela oferta de comida. A alimentação dos peixes é complementada com silagem resultante de um processo de triagem e reciclagem de resíduos orgânicos da cidade de Paraty, compactados e utilizados como ração. Nos locais onde o método de criação foi implantado, a pesca predatória é proibida, impedindo práticas como o arrasto.
Após ter detectado os nomes das espécies que retornaram ao mar da região, o projeto agora pretende trabalhar para identificar a quantidade de peixes existentes no local e, consequentemente, monitorá-los de forma eficiente.
Lucro – Preservar a fonte de renda não é a única vantagem para as famílias de pescadores que participam do projeto. Alexandre conta que a lucratividade do pescador dá um salto com a adoção do sistema, que prima por um produto de mais qualidade que o pescado comum.
Segundo explica, com o método de conservação do peixe – submerso nos tanques redes, o que dispensa gelo – cada pescador economiza cerca de 10 pedras de gelo por semana. “Tomando por referência o preço de R$ 4,00 por pedra de gelo, a economia mensal gira em torno de R$ 160,00. No final de um ano, são quase R$ 2 mil poupados”, ressalta.
Além disso, como o peixe é mantido vivo nos tanques-redes até a venda, o valor agregado do produto é maior. Pelas contas do aquicultor, o ganho, em geral, considerando todas as espécies criadas pelo sistema é 30% maior do que na criação comum. “Uma garoupa morta rende, em valores atuais, entre R$ 9,00 e R$ 10,00. O produto vivo, no entanto, chega a ser vendido por R$ 15,00. Para um pescador que capture 100 garoupas por mês, o ganho já é de R$ 500,00”, calcula.
Parcerias – Para expandir sua atuação, o Projeto Robalo está firmando parcerias com instituições e órgãos relacionados à pesca. A primeira delas foi estabelecida recentemente com o Instituto de Pesca de São Paulo.
Pelo acordo de cooperação técnica, o projeto do IAB fornecerá matrizes de cerranídeos (badejos, garoupa e mero) e litujanus (vermelho caranha), enquanto o Instituto de Pesca oferecerá estrutura, tecnologia e mão-de-obra para promover a reprodução dessas espécies em reservatórios especiais. Os alevinos criados neste processo repovoarão os mares de Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba.
Até o fim do primeiro semestre de 2008, novas parcerias serão firmadas. Além de promover a recuperação de espécies regionais, os acordos vislumbrarão o monitoramento da vida marinha e de resíduos nos locais de atuação.
Divulgando conhecimento – A iniciativa não se restringe à recuperação marinha de Paraty e à geração de renda. Ações relacionadas à educação e conscientização ambiental também compõem o escopo de trabalho do Projeto Robalo.
Uma delas engloba a realização de aulas sobre preservação ambiental em todas as escolas municipais e estaduais de Paraty. Nelas, alunos de várias idades aprendem mais sobre as espécies e a importância de cuidar de uma das principais fontes de renda da região. A ação educacional também é realizada no Projeto Bombeiro Mirim e Lobinho Guará, numa parceria com o 26º Grupamento de Bombeiro Militar de Paraty.
Por suas ações em prol da vida marinha e da conscientização ambiental, o Projeto Robalo foi convidado a participar de eventos de importância nacional e internacional em 2007. Entre eles, a Mostra Sistema Fiesp de Responsabilidade Socioambiental (Agosto), o Amazônia Fly-IN (Outubro) e o Seminário Brasil-Grã-Bretanha de Aqüicultura (Novembro).
Mais informações sobre o Projeto Robalo: www.institutoarrudabotelho.org.br