Um termo de cooperação técnica assumindo o compromisso para desenvolver, de forma conjunta, pesquisas e projetos na área de utilização e conservação de recursos pesqueiros foi assinado recentemente pelo Sindicato das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) e Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
Com a parceria, o setor privado passa a participar efetivamente dos estudos que geram informações que governo federal utiliza na definição das normas que regem a pesca industrial nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil.
O estabelecimento desta parceria deu início à execução do projeto Subsídios para a Promoção de Políticas de Desenvolvimento da Pesca de Recursos de Plataforma no SE-S do Brasil, desenvolvido pelo Grupo de Estudos Pesqueiros (Gep-Univali). O projeto faz parte de convênio firmado no final de 2007 entre a Univali e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap).
A previsão de duração do projeto é de dois anos. Nesse período será conhecida a realidade de pescas bastante exploradas e estudadas no passado, como corvina, camarão-rosa, pescadas e sardinhas.
Para Roberto Wahrlich, pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar-Univali), apesar do significativo conhecimento sobre a biologia destas espécies, o futuro da pesca comercial é incerto se as condições atuais forem mantidas: “Cada vez mais barcos dependem da produção de recursos cada vez mais escassos, em que novas áreas são descobertas e esgotadas em pouco tempo, em que diversas modalidades de pesca disputam os mesmos peixes”, pontuou.
Segundo o pesquisador, medidas adequadas devem ser tomadas para reverter esta tendência, mas elas precisam ser fundamentadas com informações atualizadas e com a abrangência que requerem a complexidade da atividade pesqueira. “É neste contexto, que o envolvimento direto do setor produtivo na geração e uso destas informações assume grande importância para a aplicabilidade de qualquer medida de gestão pesqueira”, apontou o pesquisador.
Os pesquisadores disseram ainda que o estudo de pescarias comerciais, no que se refere à sua sustentabilidade ecológica e econômica, depende da existência de dados científicos coletados de forma contínua e com a devida quantidade e qualidade. Isso levou o projeto a ser concebido considerando a implementação simultânea de duas metodologias de aquisição de dados: uma realizada nos locais de descarga de pescado e a outra ocorrendo a bordo de embarcações pesqueiras em operação.
A pesquisa nos locais de descarga faz parte do Sistema Integrado de Estatística Pesqueira, projeto também viabilizado pelo mesmo convênio entre Univali e Seap. A partir deste projeto, a rotina de visitas realizadas a empresas de pesca e terminais de descargas em Itajaí e Navegantes foi ampliada para permitir a amostragem de mais espécies, enquanto são obtidas informações sobre a produtividade das áreas de pesca com os mestres de embarcações e sobre as quantidades desembarcadas com a empresa responsável pela descarga.
Com esta metodologia, a quantidade de informação obtida depende da presença da equipe técnica no momento que ocorrem as descargas de pescado e da colaboração das empresas em permitir o acesso às suas dependências e aos valores da pesagem da produção. Por outro lado, a qualidade da informação depende da colaboração dos mestres e outros tripulantes das embarcações em descarga ao responder corretamente ao breve questionário aplicado pela equipe de campo. Esta metodologia começou a ser desenvolvida pelo Gep-Univali em 1995, e desde o ano 2000 está na base da Estatística Pesqueira Industrial de Santa Catarina.
O embarque de observadores científicos em uma amostra de cada frota pesqueira que atua na pesca costeira irá complementar e dar mais consistência às informações obtidas nos locais de descargas, garantem os pesquisadores do Gep-Univali. Eles disseram ainda que já foram iniciados embarques em seis barcos da frota camaroneira operando alternativamente durante o período de defeso do camarão-rosa.
A bordo, os pesquisadores obtêm dados precisos sobre as estratégias de pesca, sobre a composição das capturas a cada lance de pesca, sobre a condição biológica de organismos que são descartados em alto mar, ou que recebem algum tipo de processamento a bordo, e que, por isso, não estão presentes nas descargas.
Os observadores científicos possuem capacitação técnica específica para a função, e não têm atribuição de fiscalização das operações de pesca ou das espécies capturadas. O trabalho realizado a bordo é remunerado com recursos do próprio projeto, sem onerar empresas e pescadores, e os dados coletados são utilizados exclusivamente para a pesquisa científica. Por outro lado, as observações a bordo podem demonstrar contradições entre as regras estabelecidas e as características das pescarias monitoradas, além de trazer para a pesquisa alguns dados que não seriam obtidos com qualquer outra metodologia.
Serão embarcados observadores científicos em embarcações engajadas nas pescarias de arrasto, emalhe de fundo e cerco, cobrindo de 10% a 20% das viagens das frotas sediadas em Itajaí e Navegantes. Para atingir esta cobertura, o apoio do Sindipi no estímulo de seus filiados para disponibilizarem vagas para o embarque dos pesquisadores como vêm ocorrendo em parte da frota camaroneira, é imprescindível.
“O êxito no acompanhamento direto de viagens de pesca e dos desembarques comerciais nos Portos de Itajaí e Navegantes permitirá a obtenção de dados atualizados sobre padrões de explotação dos recursos costeiros”, disse Roberto Wahrlich, pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar-Univali). Com os dados poderão ser realizadas análises descritivas detalhadas sobre a pesca sobre a plataforma continental do Sudeste e Sul, bem como avaliações de parâmetros relevantes para o uso sustentável dos recursos pesqueiros que sustentam a indústria pesqueira da região de Itajaí.
Fonte = FolhaBlu