Por causa da estiagem, o lago de Itaipu diminuiu o nível e os barcos de madeira começam a ficar com problemas porque o canal onde estão secou
Enquanto preparam os equipamentos de pesca para a próxima temporada que começará em março, os pescadores de Guaíra veem com apreensão o baixo nível do rio Paraná e do Lago de Itaipu e temem consequências negativas no estoque pesqueiro da região. O presidente da Colônia de Pescadores Z-13, José Cirineu, diz que outro problema está nos canais onde os barcos ficam guardados. A maioria secou e os barcos têm a estrutura comprometida.
No canal de acesso ao Lago de Itaipu, no ponto de pesca 063, distante cinco quilômetros de Guaíra, em torno de 50 barcos de madeira estão parados na terra seca ou na lama. Sem água, o casco apresenta rachaduras e os barcos terão de passar por reforma para retornarem ao rio. O pescador Isaias da Silva Laurentino ainda não calculou o prejuízo que terá com o conserto do barco. “O pior é que a gente está sem pescar e ainda necessita de dinheiro para arrumar o barco”.
Mas a preocupação é maior com a queda no estoque pesqueiro. Segundo Cirineu, o nível baixo dificulta a desova dos peixes e ainda forma muitas lagoas que acabam secando e matando matrizes, principalmente no Lago de Itaipu. Em alguns pontos, o lago já recuou mais de cinquenta metros e começa a forma uma verdadeira paisagem de deserto. Com isso, aumenta a quantidade de moluscos mortos, um dos alimentos preferidos de várias espécies de peixes.
Somente em Guaíra são 358 famílias que incluem 760 pescadores. Por causa da piracema (reprodução dos peixes), entre novembro e fevereiro, os pescadores recebem um salário mínimo de seguro-desemprego. Diante das dificuldades financeiras enfrentadas pela categoria nesse período sem pesca, a Colônia de Pescadores fiscaliza para evitar que algum integrante do grupo seja aliciado pelo contrabando e, principalmente, pelo tráfico de drogas, já que com o nível do rio Paraná muito baixo, em torno de dois metros abaixo do normal, somente os pescadores conseguem navegar sem colidir o barco ou o motor com as rochas que reaparecem no leito do rio e do lago. “É uma luta intensa e a gente até sofre ameaças, mas é importante manter a categoria fora de ações ilegais”, diz Cirineu.