Os pescadores do interior do Município permanecem descontentes com a produção deste ano. A demora na salga da Lagoa dos Patos e a falta de fiscalização – permitindo a pesca através de formas desregradas – contribuíram, segundo eles, para a queda da pesca do camarão na região.
Para o pescador Renato Figueiredo Costa, a quantidade ficou muito aquém da esperada. “O máximo que conseguimos é um quilo de camarão por rede, o que resulta em uma média bem abaixo do registrado em safras anteriores”, conta ele, que trabalha com 20 redes. De acordo com o pescador, a qualidade do produto também não é a mesma, uma vez que o camarão não atingiu o tamanho ideal e mais valorizado para a comercialização.
Mesmo com o preço baixo – Costa está vendendo seu camarão por R$ 2 a R$ 2,50 o quilo – o valor chega salgado à mesa do consumidor, já que a maioria da produção do interior é vendida para compradores de fora do Estado. “Acredito que 80% do que pesco vão para outros estados do País. O preço não permanece baixo nas bancas, pois o camarão vendido em Rio Grande não é o mesmo pescado aqui: ele vem de outras cidades e, inclusive, de estados como Santa Catarina e Pará”, conta. Questionado sobre o motivo de o camarão pescado não permanecer na cidade, ele imediatamente responde. “Não há incentivo por parte dos órgãos públicos. Em Rio Grande há um sistema fechado, onde apenas poucas pessoas são privilegiadas, encarecendo o valor do produto”, argumenta o pescador da Quitéria. “Existe uma dificuldade muito grande de comunicação entre o pescador e a comunidade”, justifica ele, que termina vendendo seu produto para compradores de fora.
Morador da Ilha da Torotama, o pescador Onedir Vinagre também concorda com a queda do camarão no estuário da Lagoa dos Patos. Acostumado a puxar entre 40 e 50 quilos do produto diariamente, este ano não conseguiu mais do que 20 quilos diários. “A situação nos preocupa pois a quantidade diminui a cada ano. Nossos filhos não seguem mais esta prática, e já procuram outras alternativas de renda”, fala ele, que se dedica à pesca durante toda a vida.
Ele diz que este ano a água salgou muito tarde, e que a safra iniciou mesmo nas últimas semanas. “Foi quando apareceram camarões maiores”, explica ele, que vende o quilo para atravessadores do Rio Grande por R$ 4 a R$ 5, dependendo do tamanho.
O pescador é um dos poucos que ainda comercializa o que pesca para o Município, e diz que a procura é cada vez menor. “Acho que o produto vendido no Centro vem de outros lugares, onde existe camarão mais graúdo”, especula.
Com o cenário cada vez mais desfavorável, Vinagre não tem muitas expectativas para o futuro da prática na cidade. “A safra já encerra em maio e não atingimos nem a metade do camarão normalmente capturado”, lamenta.
Fiscalização
Para os pescadores, a fiscalização deveria ser dirigida à pesca e não às pessoas que a executam. De acordo com eles, a prática na Lagoa dos Patos é desregrada. “Enquanto pessoas arrastam o camarão através das pranchas, eles (Ibama) visitam a residência dos pescadores artesanais atrás de camarões mais graúdos ou que não estão sendo encontrados nas docas do Mercado. O problema é que o capturado no interior não é o mesmo vendido à comunidade”, ressalta Renato Costa. “Para falar a verdade, nunca vi embarcação alguma fiscalizando a Lagoa, somente automóveis percorrendo as estradas do interior”, conta o pescador da Quitéria.
Esse tipo de fiscalização, segundo ele, é um dos pontos que dificultam ainda mais o comércio do camarão do interior do Município ao Centro. “Exigem diversos procedimentos que acabam encarecendo o produto: carro refrigerado, licença para transportar, entre outras exigências burocráticas. É mais barato nós vendermos para os atravessadores de outros locais”, conta ele, dizendo que muitos pescadores amigos seus desistiram da prática por não terem para quem vender seu camarão.
Thiago Piccoli/JA