Curso reúne 150 pescadores com formação inicial e continuada integrada ao ensino fundamental
Com o início do período da piracema, pescadores pantaneiros, alunos do IFMT/Campus Cáceres, intensificam a rotina de aulas no Curso em Aproveitamento e Industrialização de Pescados Regionais desenvolvido por meio Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, Proeja FIC. Desde janeiro deste ano, o curso reúne 150 pescadores com formação inicial e continuada integrada ao ensino fundamental.
Na última semana, a coordenadora nacional do Proeja, professora Vânia Nóbile, participou em Cáceres de espaços de diálogo entre alunos, professores, coordenadores e parceiros do programa no município. Ela elencou o propósito do MEC de prorrogar o projeto para garantir aos pescadores além da alfabetização e conclusão do ensino fundamental a continuidade na formação com cursos de Proeja Técnico integrado ao ensino médio.
“Um dos objetivos do programa é elevar a escolaridade. O propósito do MEC é que vocês possam concluir o ensino fundamental e permanecer estudando no instituto federal, dando continuidade à caminhada de escolarização”, afirmou Vânia.
O avanço do programa com registros de mudança na vida das pessoas e em suas relações com a sociedade foi destacado pela coordenadora. “O projeto teve início em 2005 com matrícula pequena e 114 escolas em funcionamento. Hoje já conseguimos expandir o projeto para 30.000 educandos em 340 escolas técnicas com adesão ao proeja”, pontua.
Em Cáceres, o Proeja FIC é realizado em parceria com a Prefeitura Municipal. As atividades de alfabetização e formação das séries iniciais do ensino fundamental são desenvolvidas em escolas municipais por professores da rede municipal de ensino e as disciplinas do ensino profissional nos laboratórios do IFMT, Campus Cáceres.
“ Nós estamos ansiosos por que a partir de janeiro vocês vão partilhar suas vivências e aprendizados também no campus. Parabenizamos pela persistência e seriedade com que cada um enfrenta o dia-a-dia de retorno a educação formal. Barreiras e obstáculos existem para todos, mas vocês são exemplos de que através da persistência no trabalho conjunto com os professores as dificuldades são superadas”, afirma o diretor-geral do Campus Cáceres , Olegário Baldo.
Relatos
No espaço de diálogo, relatos como o do pescador José Farias de 60 anos. “Eu fui um que duvidou que o projeto fosse funcionar. Foi uma boa surpresa, a sala continua cheia e está todo mundo interessado. Eu depois do 60 anos comecei a ler e isso abre minha cabeça”, afirma Farias
O aluno Jorge Pedroso, 55 anos, fala da expectativa de continuar estudando. “ Para mim o proeja é espetacular . Agora sabendo que podemos concluir a 8ª série e continuar no projeto, fico mais feliz ainda” diz
Conquistas como assinar o nome, tirar novos documentos, exercer direitos universais da cidadania com auto-estima elevada foram destacados no evento pela presidente da colônia Z2, Elza Basto. “É uma emoção acompanhar a felicidade das pessoas que antes chegavam na colônia e colocavam o dedo no lugar da assinatura e hoje esses trabalhadores pegam uma caneta e escrevem seus nomes”, afirma.
O casal dona Ana, 55 anos, e seu João Souza, 59, alunos do Proeja aproveitaram o espaço para prestar homenagens aos professores do projeto. “Nós agradecemos os professores pela paciência e o carinho que tem com a gente”, diz dona Ana acompanhada pelo marido,
“A professora colocou uma pequena letra na minha cabeça e isso faz uma diferença grande em minha vida. Eu vim para o curso e vou até o fim”, declara João.
Para o secretario de educação do município, Josué Alcântara, a responsabilidade coletiva agregada a sede de aprender dos alunos é uma das grandes motivações do projeto. “Isto tudo está acontecendo pela vontade de fazer de todos, em especial, a sede de aprender de cada um aqui. Que esta sede aumente mais e tenhamos cada vez mais relatos de êxitos como os aqui colocados” conclui.
Educação diferenciada
A metodologia diferenciada aplicada a realidade dos pescadores é uma das marcas do curso. Segundo os coordenadores do projeto em Cáceres, os professores do instituto Inêz Montecchi e Eliel Regis, a distribuição de temas e conteúdos é elaborada é elaborada de forma que as aulas aconteçam nos quatro meses de piracema – período de defeso, meses em que os pescadores permanecem na cidade. De março a outubro as aulas são ministradas em finais de semanas nos diferentes acampamentos de pescadores e organizados plantões com professores e coordenadores do curso para atender os alunos que vierem à cidade.
Além do curso de Industrialização de Pescados Regionais, o IFMT Campus Cáceres oferece por meio do Proeja o Curso de Processamento de Produtos de Origem Animal integrado ao ensino fundamental para 90 pequenos produtores rurais do distrito de Vila Aparecida, e o Curso Técnico em Agroindústria Integrado ao Ensino Médio.