Segundo a Associação de Pescadores, a pesca predatória por redes de arrasto contribui para a escassez da espécie
Iguatu Um dos pescados mais apreciados da água doce é o tucunaré. Frito ou cozido, é o preferido entre a maioria dos consumidores. A espécie, entretanto, está escassa na região Centro-Sul. Nos últimos meses, houve queda de cerca de 90% na quantidade de captura nos açudes públicos. No Açude Orós, por exemplo, o segundo maior do Ceará, os pescadores se queixam do “sumiço” do peixe. Essa reclamação ocorre também no Açude Trussu, em Iguatu, no Muquém, em Cariús, e no Ubaldinho, em Cedro.
Na localidade de Barrocas, na bacia do Açude Orós, na zona rural de Iguatu, os pescadores dizem que, desde o ano passado, está cada vez mais difícil pescar tucunaré. “Aqui na nossa comunidade, a queda foi de 90%. Praticamente desapareceu”, diz o presidente da Associação de Pescadores, Evanilson Saraiva. Ele informa que o grupo pescava uma média de 300 quilos de tucunaré por semana. Hoje, o número caiu para 30 quilos.
No Açude Trussu, o tucunaré também está difícil de ser capturado. No período da Quaresma de 2011, o piscicultor Ernani Lima lembra que mantinha um estoque diário em torno de 40 quilos da espécie. “Hoje, só tenho uns seis quilos”, lamenta. A captura não ocorre mais diariamente. As linhas ficam armadas com isca permanentemente, mas parece que o peixe mudou-se para outras águas”, lamenta.
Nas comunidades ribeirinhas do Açude Orós, a reclamação é geral. O tucunaré é uma espécie de alto valor comercial e não faz parte da relação das espécies de piracema, que são proibidas de serem capturadas nessa época do ano devido a uma portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Era uma fonte de renda para todos nós”, observa o pescador artesanal Paulo da Silva. “Centenas de pescadores eram beneficiados com a captura do tucunaré”, fala.
Produção de filé
Evanilson Saraiva conta que a pesca predatória das espécies pequenas é feita por meio de redes de arrasto para a produção de filé. Já a pesca das fêmeas maiores acontece com arpão.
Na localidade de Barrocas, a queda da quantidade de tucunaré capturado vem sendo observada desde 2010. Um dos maiores consumidores da espécie na região, as peixadas de Lima Campos adquirem o peixe do Açude Castanhão e de reservatórios da região Norte do País. “Em Lima Campos e no Orós, o tucunaré acabou. No passado, atendia grande parte da nossa demanda, mas agora praticamente acabou”, observa o empresário José Gomes.
O engenheiro de pesca Roberto Bezerra, coordenador do Centro Vocacional Tecnológico (CVT), em Iguatu, acredita que a pesca predatória do tucunaré menor do que 20 centímetros contribuiu para a situação atual. “O uso de rede com malhas reduzidas captura espécies pequenas, impedindo sequer uma reprodução”, diz. “Com o tempo, o estoque tende a acabar”, completa.
Bezerra defende o controle de pirambeba, outra espécie carnívora que tem em abundância no Açude Orós, mas não tem valor comercial. “O governo poderia incentivar a captura dessa espécie, que pode ser aproveitada como componente de ração ou produção de farinha”, defende.
Outra medida seria intensificar o peixamento de tilápias e outras espécies que servem de alimento para tucunaré. “É preciso ampliar e ter mais rigor na fiscalização que é praticamente inexistente, e permite a pesca predatória. Os dados sugerem que o ecossistema do Orós está em desequilíbrio”, observa.
Coleta anual
A Unidade Administrativa do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), no Açude Orós, faz a coleta anual de quantidade capturada de 11 espécies. A informação é dada pelos pescadores cadastrados. Não há checagem. Os dados revelam uma variação nos últimos dez anos e, curiosamente, mostram um crescimento entre 2002 e 2009.
Em 2002, quando o reservatório estava quase seco, foram capturados apenas 260 quilos de tucunaré. Já em 2005, um ano após a sangria, foram informados 20 mil quilos. Em 2009, 70 mil quilos. Em 2010, 42 mil quilos e, em 2011, caiu para 39 mil. O coordenador de Pesca e Aquicultura do Dnocs, Pedro Eymard Mesquita, informa que a produção do tucunaré é cíclica, variando entre a quadra invernosa e o período posterior. “Quando os açudes estão cheios a produção estabiliza-se”, explica. “Não há motivo para preocupação”. Ele esclareceu que a fiscalização de captura do pescado é de responsabilidade do Ibama e lembra que o Dnocs não realiza o peixamento da espécie tucunaré.
Quanto ao incentivo governamental para a captura de pirambeba, defende a ideia de que a iniciativa privada é quem deve encontrar alternativa de aproveitamento e comercialização do subproduto. “Cabe ao governo orientar, ensinar, mas o piscicultor é que deve buscar o mercado para o pescado, transformado em farinha ou outro produto”.
Mais informações:
Coordenadoria de Pesca e Aquicultura do Dnocs
Fone: (85)3391. 5323
CVT de Iguatu
Fone: (88) 3581. 1503
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER