Uma vez por ano, por 75 dias (entre 15 de maio e 30 de julho), o Governo Federal libera a pesca da tainha (Mugil platanus), ao longo da costa dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao contrário da grande maioria das espécies, a liberação, no caso da tainha, é tradicionalmente feita durante o seu período reprodutivo, quando os cardumes aproveitam as correntes de água fria provenientes da Antártida para subir o litoral Sul e Sudeste do Brasil, onde se reproduzem e desovam, até à altura de Cabo Frio. Neste ponto há o choque com outra corrente, de águas quentes, proveniente da África.
Na terça-feira (21) desta semana o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) reconheceu e liberou uma inovação técnica na pesca da tainha em Santa Catarina, que aumenta a produtividade na captura, como explica o engenheiro de pesca Ivan Furtado Júnior, coordenador de Planejamento e Ordenamento da Pesca Industrial e Costeira do MPA.
Nos últimos anos, os pescadores artesanais do estado, que trabalham entre os 800 metros e os oito quilômetros (cinco milhas) da costa, adicionaram um complemento à tradicional rede de emalhe. Agora, esta rede conta, em sua parte inferior, com anéis que seguram cabos ou cordas, que podem se fechar, como ocorre na rede de cerco. Assim, a nova rede, com aproximadamente 500 metros de extensão, combina a eficácia do emalhe com a arte do cerco. Se as tainhas pequenas escapam, como sempre, pela malha, as de tamanho médio ficam presas nos losangos de fios pelo opérculo (guelras) ou pelo corpo. As tainhas grandes, que antes escapavam, porém, ficam presas no interior da rede fechada.
Como esta arte de pesca não estava prevista na legislação, o MPA editou então uma instrução normativa para regularizar a situação. A medida beneficia aproximadamente 200 pescadores artesanais. Ao todo, porém, aproximadamente três mil pescadores em Santa Catarina se dedicam à pesca da tainha, uma espécie batizada popularmente com cerca de 50 nomes diferentes.
Arrasto de praia
A maioria dos pescadores artesanais captura a espécie através do “arrasto de praia”, uma modalidade de pesca que justifica as “festas da tainha” em diversas localidades costeiras de Santa Catarina. Neste caso, pequenas canoas a remo levam a rede até no máximo a 800 metros da linha de praia, onde a captura por arrasto é praticada e permitida.
A rede, com aproximadamente 800 metros de comprimento, então é puxada, em seus dois extremos, por um bom número de pescadores e voluntários. Na praia o botim é dividido fraternalmente, para a alegria de todos. Bem distante dali, a partir de cinco milhas da costa, a tainha é capturada apenas por embarcações industriais, que utilizam o método de cerco. A previsão, segundo Ivan Furtado, é que a safra da pesca artesanal deste ano em Santa Catarina seja de aproximadamente 1.200 toneladas. A produção é voltada para o mercado interno. Entretanto, o mais valioso na tainha não é a sua saborosa carne, mas sim as suas ovas, que são mesmo exportadas para a Europa, como o legítimo caviar nacional.
As tainhas que resistem a tantas armadilhas em seu percurso garantem a continuidade do ciclo anual. No mar, as ovas são liberadas pelas fêmeas e fertilizadas pelos machos. A espécie Mugil platanus apresenta outra curiosidade. Os seus indivíduos podem apresentar, aqui e ali, pequenas diferenças morfológicas, como nadadeiras dorsais em posições ligeiramente afastadas.