A pesca está ameaçada pela superexploração.
Excesso de pesca nos oceanos não dá tempo para a recuperação dos estoques. Nesse ritmo, a vida no mar pode entrar em colapso.
Durante muito tempo, a imensidão das águas alimentou a ilusão de que os oceanos seriam capazes de se recuperar da ação predadora do homem, por mais devastadora que fosse. Essa suposição está sendo definitivamente descartada por biólogos e oceanógrafos com base em um dado alarmante: a exploração da pesca pode estar próxima de atingir um ponto sem volta, a partir do qual a vida marinha entrará em colapso. Os sinais inequívocos desse desastre foram apresentados em um dossiê especial da National Geographic Brasil (revista da Editora Abril, que publica VEJA). A edição deste mês da revista expõe, em 64 páginas, fatos e imagens contundentes – algumas das quais ilustram estas páginas – que documentam a agonia da vida nos oceanos. Os especialistas comparam os mares a uma conta bancária: se forem feitos apenas saques, sem jamais ocorrerem novos depósitos, ela acabará em déficit, por mais generoso que tenha sido o saldo inicial. Em alguns lugares, o estoque de peixes já entrou em colapso. No Mediterrâneo, doze espécies de tubarão estão comercialmente esgotadas. O estoque de atum reduziu-se a 10% do existente em meados do século passado. O bacalhau praticamente desapareceu do Mar do Norte. Em apenas quinze anos a produção de lagosta na costa brasileira caiu de 11.000 toneladas para 7.000 toneladas anuais. As razões são as mesmas que abatem outras espécies marinhas mundo afora: a exploração predatória do recurso para atender à demanda comercial crescente. Nas últimas cinco décadas, a população mundial dobrou, mas o consumo de alimentos do mar quintuplicou.
A necessidade de atender a exigências do mercado leva ao desperdício. No México, três em cada dez peixes fisgados com espinhel – linhas de pesca com milhares de anzóis – são devolvidos ao mar por terem pouco valor comercial. A maioria morre sufocada antes de chegar à água. Estima-se que 40 milhões de tubarões sejam capturados todo ano apenas para a retirada das barbatanas, ingrediente apreciado em sopas no Japão. Uma possível solução para evitar a superexploração dos estoques de peixes é estabelecer cotas rígidas de pesca. A experiência, no entanto, mostra que limites de pesca ditados por tratados internacionais raramente são respeitados. A quantidade de atum-azul capturada todo ano no Mar Mediterrâneo é o dobro da permitida oficialmente. A carne rica em gordura desse peixe é considerada ideal para sushis. É tão valiosa que a frota pesqueira usa navios com sonares e aviões de reconhecimento para encontrar os cardumes. Outra maneira de proteger a vida dos mares é criar reservas ecológicas, nas quais toda a pesca é proibida. A National Geographic Brasil mostra a experiência bem-sucedida da Nova Zelândia, ilha que criou 31 refúgios marinhos. A vantagem de uma reserva inteiramente vedada aos pescadores é permitir que os ecossistemas das áreas protegidas se recuperem rapidamente. Nada impede os pescadores de espalhar suas redes em locais próximos aos limites das reservas para capturar os peixes que se aventuram em outras águas.
Diogo Schelp
Fonte: VEJA – Edição 2004 – Ambiente – 18 de abril de 2007
Gostaria de saber se a Represa Billings se encontra fechada para pesca, nesse final de ano. Obrigado