As atividades de pesca, turismo e a produção de energia a partir de aguapés que descem os rios são três possibilidades de aproveitamento econômico dos recursos do Pantanal caso as mudanças climáticas aumentem os períodos de cheia na região.
Este cenário foi apresentado pelo pesquisador André Steffens Moraes, da Embrapa Pantanal, em Buenos Aires, Argentina, entre os dias 24 e 26 de agosto, na 6ª Reunião Técnica Internacional da Rede Cyted “Efeitos das Mudanças Globais sobre Áreas Úmidas da Iberoamerica”.
André apresentou a palestra “Cenários de Desenvolvimento Sustentável no Pantanal em Função de Tendências Hidroclimáticas”, e trabalhou com dois cenários futuros possíveis para a região em função das mudanças climáticas: aumento e redução do período de alagamento.
Os prognósticos traçados sobre as atividades econômicas mais promissoras no Pantanal indicam que a pecuária vai permanecer nos dois cenários, mas com futuros diferentes. Segundo André, caso aumentem os períodos de cheias, ela deve ceder espaço para as três atividades citadas acima, sendo a produção de energia a partir de aguapés uma atividade nova na região.
Essa biomassa vegetal aquática apresenta diversos potenciais econômicos a médio prazo, como produção de fertilizantes orgânicos, de fibras e de energia (bio-óleo, biocarvão, etanol celulósico, gás de síntese, hidrocarbonetos renováveis).
“Caso prevaleça a seca, poderão ser implementados sistemas combinados de produção silvopastoril, incluindo o replantio de plantas nativas em áreas antes alagadas, para aproveitamento econômico dessas espécies”, explicou o pesquisador da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Como exemplo, cita produtos do setor florestal, tais como madeira para uso na construção civil e na indústria moveleira, produção de fibras e frutos, extração de gomas, óleos e essências e demais subprodutos da silvicultura.
Cenários hidroclimáticos são úteis porque permitem identificar oportunidades para as próximas décadas, em função da mudança de clima. Nos prognósticos realizados também foram consideradas as mudanças e tendências da economia mundial e o valor dos serviços ambientais produzidos pela região.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Como usar esses cenários em favor do desenvolvimento sustentável do Pantanal? Os cenários ambientais e econômicos prognosticados permitiram definir formas de manter os serviços ambientais e mitigar a emissão de gases de efeito estufa, o que se daria pela geração e uso de tecnologias de manejo de biomassa vegetal aquática (aguapés) e terrestre para diversas finalidades, principalmente produção de energia e insumos renováveis. Tais atividades podem possibilitar benefícios sócio-ambientais, tais como a diversificação da renda, o seqüestro de carbono, a redução da pressão sobre matas nativas e a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Cientistas da Embrapa Pantanal identificam que haverá um aumento dos índices de chuva até 2070, em decorrência do aumento no transporte de umidade do Oceano Atlântico Equatorial e da Floresta Amazônica para a região central da América do Sul. Mas isso não significa aumento das cheias, já que a região tem déficit hídrico. O déficit hídrico ocorre quando o volume de evaporação das águas é maior que o volume de chuvas.
REDE
O Cyted é o Programa Iberoamericano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento e reúne 19 países da América Latina, Portugal e Espanha. Desde que foi criado, em 1984, gerou quase 200 redes temáticas. A rede que se reuniu na Argentina é uma delas, foi formada em 2004 e está se encerrando agora, em 2009.
O objetivo desta rede é propiciar a cooperação entre especialistas iberoamericanos, o intercâmbio de experiências e a transferência de conhecimentos sobre os efeitos das mudanças globais sobre as áreas úmidas e sua repercussão em três direções fundamentais: a vulnerabilidade dos recursos hídricos; a biodiversidade, a vulnerabilidade de espécies e a resiliência; e a segurança alimentar e a saúde humana.
O pesquisador disse que em breve deve ser criada uma outra rede sobre o tema, mais ampla. “A idéia é incluir as áreas glaciais e de montanhas, além de manter os estudos em áreas úmidas”, afirmou. As reuniões técnicas acontecem uma vez por ano. Desta vez, cerca de 15 profissionais participaram.
Fonte:
Ana Maio
Jornalista – Mtb 21.928
Área de Comunicação e Negócios-ACN
Embrapa Pantanal
Corumbá (MS)
Foto: Rui Madruga
Legenda: Pecuária será mantida no Pantanal, mesmo com a perspectiva de mudanças climáticas