A 3 dias do início da piracema nas bacias hidrográficas do Paraguai e Amazônica, pescadores da Baixada Cuiabana desafiam a lei com tarrafas. O artefato característico de pesca predatória, e proibido em qualquer período do ano, é utilizado no meio da tarde ao longo do rio Cuiabá, como flagrou a reportagem neste feriadão. Cerca de 11 mil pescadores deverão parar as atividades de pesca de quaisquer modalidade nos próximos 4 meses em todo o Estado devido ao período de reprodução dos peixes, sob pena de multa e risco de enfrentar um processo criminal.
Em um dia atípico, de pré-feriado e chuva, um grupo de pessoas aproveitava o tempo para tarrafear na margem do rio Cuiabá. O local escolhido foi o Cais do Porto, onde dezenas de pessoas também utilizavam canoas e a o anzol – forma tradicional de pesca e permitida até o próximo dia 4. O trabalho é feito à luz do dia, mas sob vigília de companheiros de pescaria, que avisam quando alguém da imprensa ou fiscalização flagra a ilegalidade.
A pescaria com artefatos predatórios é mal vista pelos pescadores profissionais e tradicionais, como Joel Inácio, 55. Todos os dias, por volta das 6h, o morador do Praieirinho, desce a barranca do rio Cuiabá, pega a canoa e larga a linha na água em busca dos peixes. Trabalho, que todos os pescadores deveriam ter.
Porém, o uso da tarrafa afugenta os peixes e coloca em risco a perpetuação das espécies, que ficam ameaçadas pela malha. O presidente da Colônia Z-14 de Várzea Grande, Belmiro Lopes de Miranda, diz que a pescaria predatória é a maior reclamação da categoria. “Os que vão tarrafear atrapalham os que estão na linha, pois perdem os cardumes que sobem nesta época, como jiripoca e jurupensém.”
Segundo Belmiro, existem pessoas que infringem a lei, mas garante que 95% dos pescadores profissionais têm consciência do trabalho que realizam. Entre os pontos mais críticos, em que o uso da tarrafa abarca o que vê pela frente, está o Engenho Velho – entre Praia Grande e Valo Verde e o Praieirinho.
Na avaliação do pescador Joel, em época de piracema as canoas deveriam ser tiradas da água e subir o barranco. Na tarde de ontem, ele voltou para a margem do rio com 8 peixes, entre eles, piau, piava e ximburé. Na companhia do comerciante Israel da Silva, 62, está aproveitando os últimos dias anteriores à piracema para fazer estoque. “A gente pesca no anzol, mas fica no prejuízo.” Na Bacia Hidrográfica Araguaia/Tocantins – nordeste de Mato Grosso – a piracema iniciou ontem.
Jornal A Gazeta