Para especialista, registros de morte acidental e por agressão de botos são de extrema importância para a busca por alternativas de conservação destas espécies. Em cinco meses, três mortes foram registradas
Em cinco meses, três botos amazônicos – dois tucuxis e um vermelho – morreram no lago Tefé, no município de mesmo nome, no interior do Amazonas, em decorrência de agressão e captura acidental por redes de pesca, principal causa de morte de pequenos cetáceos – categoria que inclui as duas espécies amazônicas – no mundo inteiro, de acordo com Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Os dados foram divulgados pela bióloga Iara Ramos, que faz um monitoramento semanal na região, como parte do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert).
Ramos afirma que os registros de morte acidental e por agressão de botos são de extrema importância para a busca por alternativas de conservação destas espécies, pois a ciência ainda desconhece o impacto dessas circunstâncias às populações de botos na Amazônia.
Monitoramento
Na região de Tefé, importante entreposto pesqueiro no noroeste do Amazonas, o Aquavert está desenvolvendo um estudo para avaliar a interação entre a atividade pesqueira no município e os botos.
Desde setembro do ano passado, a bióloga realiza monitoramento semanal em toda a área do lago Tefé (cerca de 60 quilômetros quadrados), para resgatar carcaças de botos para a realização de necropsia. O objetivo é registrar o número de animais que morrem presos em equipamentos de pesca na região.
Em cinco meses, a pesquisadora confirmou a morte de dois botos, um tucuxi e um boto vermelho, por captura acidental em redes de pesca e uma morte por agressão de um boto tucuxi, que apresentava traumatismo craniano.
Concorrência
Durante a atividade de monitoramento do lago, a bióloga realiza entrevistas com os pescadores, para avaliar quais as percepções desses profissionais sobre os botos.
“Em geral, os pescadores encaram o boto como um competidor pelo recurso pesqueiro. O fato de os botos tirarem o peixe e danificarem a rede traz prejuízos aos pescadores, motivando as agressões aos animais”, diz a bióloga.
A pesquisa também registra os locais de pesca e quais tipos de apetrechos estão sendo utilizados pelos barcos pesqueiros e por pescadores artesanais. Os locais mais utilizados pelos botos para a alimentação e descanso são marcados por GPS.
Segundo a bióloga, a pesquisa pode ser a base para a adoção de estratégias de sensibilização dos pescadores para liberar os botos que se prendem às redes e sobre o uso de equipamentos de pesca que diminuam as chances de capturas acidentais. A pesquisa também pode subsidiar definições de normas para a atividade pesqueira na região, como as orientações sobre locais ou épocas mais apropriados para a pesca, que não afetem ou causem menor impacto aos botos amazônicos.
“Sabemos que é um problema que está diretamente ligado à economia do município. Encontrar soluções que equilibrem a atividade pesqueira com a conservação de cetáceos é crucial para o sucesso de políticas socioambientais que venham a ser adotadas”, conclui a pesquisadora.
Matança
Pesquisas realizadas por cientistas do Inpa por meio do Projeto Boto mostram que a população de boto, sobretudo o vermelho, vem diminuindo 10% ao ano, em algumas regiões da Amazônia.
Uma das razões para essa redução, segundo estudos realizados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), é o aumento da matança para a pesca da piracatinga, peixe necrófago conhecido como “urubu d’água”.
Conservação
O boto vermelho e o tucuxi são espécies-alvo do projeto Aquavert, desenvolvido pelo Instituto Mamirauá com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental. O projeto visa consolidar estratégias e propor novas ações de conservação para as espécies de mamíferos aquáticos, jacarés e quelônios que habitam as Reservas Mamirauá e Amanã, na região do curso médio do rio Solimões, no Estado do Amazonas.
Fonte:Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá