Pescadores voltam a disputar espaço de trabalho em Icapuí, com repercussões na região, como estrada fechada
Icapuí. Mais uma vez Icapuí, palco contínuo de conflito armado entre pescadores, tem suas principais vias de acesso interditadas em protesto de pescadores alternativos, que usam instrumentos irregulares para a pesca. Ontem pela manhã, mais uma ocupação levou congestionamento de veículos e medo para a população.
Pelo menos até a tarde de ontem os acessos do litoral ao Centro da cidade e mesmo saídas para o município de Aracati e Estado do Rio Grande do Norte estiveram fechadas. Pessoas que tentavam registrar com câmeras fotográficas foram impedidas e, uma delas, agredida. É uma guerra civil declarada.
Segunda ocupação
“Se vier alguém de lá eu não posso te garantir que volta”, afirmou, por telefone, à reportagem um dos pescadores “alternativos” protestantes, na segunda ocupação feita ontem pela manhã, na Avenida João Cirilo, na CE-265, e no “corredor da serra”, que dá acesso à comunidade de Mutamba. O trevo, que chamam de Quatro Bocas, também dá acesso à BR-304, para o Rio Grande do Norte.
O aviso foi para os pescadores da Praia da Redonda, que no último sábado capturaram um barco que fazia a pesca com marambaia, instrumento irregular. Os pescadores artesanais da Praia da Redonda, por sua vez, vigiam armados com revólveres o barco apreendido e colocado no alto do morro “para servir de exemplo”, no caso de os pescadores protestantes tentarem resgatar a embarcação.
“Esse é um protesto dos irregulares, dos piratas. Não se pode dar crédito a uma manifestação que defende o uso de instrumentos irregulares”, afirma Raimundo Braga, o Kamundo, reconhecida liderança entre os pescadores artesanais. O fechamento das principais vias da cidade foi realizado pela Associação dos Pequenos Produtores de Pesca Alternativa. O presidente da associação, “Iran”, disse que pretendem ficar até que autoridades entrem em negociação para recuperar os barcos apreendidos pelos pescadores da Praia da Redonda.
De um lado, os “alternativos” ocupando cada vez mais espaços no mar, antes predominante dos artesanais. De outro, estes, que utilizam manzoás, único instrumento considerado regular para a pesca da lagosta, tentam fazer justiça com as próprias mãos e fazem a fiscalização e apreensão por conta própria dos barcos irregulares. O barco do pescador Dinardo dos Santos teria invadido o espaço reservado para a pesca artesanal – um trecho de 50 quilômetros de costa e 54km de avanço no mar, abrangendo parte de Icapuí e de Aracati. “Eles invadiram a nossa área, e os pescadores da Redonda não estão dispostos a tolerar”, afirmou Kamundo, negando ainda que os artesanais tenham agredido embarcações pertencentes à Marinha.
Volta da fiscalização
Rolfran Ribeiro, chefe da fiscalização do Ibama no Ceará, disse que na próxima semana um barco voltará a fiscalizar o litoral leste. “Os conflitos no mar acontecem quando eles não veem o barco da fiscalização”, admitiu.
Atualmente, só um barco tenta fazer a fiscalização em todo o litoral cearense. Daqui a duas semanas começa o defeso da lagosta, e até lá guerra civil entre pescadores de Icapuí pode ficar ainda pior.
Fonte = Diário do Nordeste