A subida em flecha do preço dos combustíveis uniu no protesto pescadores de Portugal, Espanha e Itália numa “greve ilimitada“. Juntam-se assim ao protesto que em França já dura há várias semanas, e conta com o reforço dos agricultores e camionistas. Os governos dos quatro países preparam-se para fazer a Bruxelas um pedido conjunto de mais apoios.
Em Portugal e Espanha, os barcos ficaram todos em terra e o peixe que esteve à venda foi capturado antes da meia noite. O protesto juntou armadores e todos os pescadores, mesmo os que não têm direito a subsídio no combustível. Por exemplo, cerca de 70 por cento das 1300 embarcações algarvias são dedicadas à captura artesanal e de pequena dimensão e trabalham a gasolina, sem qualquer apoio por parte do Estado.
Quanto a novas formas de luta para além da greve, o dirigente do Sindicato Livre dos Pescadores, Joaquim Piló, diz que foi dado “um prazo de quatro a cinco dias para ver se há sensibilidade para as reivindicações dos pescadores. Caso não haja avanços, será inevitável partir para outras formas de luta“.
O presidente da República referiu-se hoje à situação de ruptura no sector das pescas, um dia depois do ministro da Agricultura ter recusado dar mais apoios aos pescadores. “O que pode ser feito são respostas selectivas para tentar ajudar os grupos mais desfavorecidos que têm dificuldade a ajustar-se à nova situação”, disse Cavaco, contradizendo as declarações de Jaime Silva. O ministro tinha justificado a recusa dessas ajudas na quinta-feira, e explicou-o claramente: “Não podemos é estar a chorar a pedir 30 mil euros para resolver o problema, porque senão daqui a seis meses, se os combustíveis continuarem a aumentar mais 30 mil, e por aí adiante”.
No país vizinho, cerca de dez mil pescadores manifestaram-se em Madrid na primeira manhã de greve, ao mesmo tempo que decorria a distribuição de 20 toneladas de peixe fresco à população que passasse pelos pescadores junto ao Ministério do Ambiente e do Meio Rural e Marinho.
Em França, houve bloqueios no segundo porto mais importante, o do Havre no noroeste do país. Os pescadores em luta bloquearam também os acessos a alguns depósitos de combustívelno centro do país. A greve dura já há cinco semanas e por isso nalguns portos os pescadores decidiram voltar ao mar. A sexta-feira de protesto ficou também marcada por “operações-caracol” que congestionam o trânsito e visitas de agricultores aos supermercados, como em Avignon, para controlar os preços.
Os governos dos países afectados pelas greves vão reunir na próxima semana para prepararem uma proposta conjunta a Bruxelas. Segundo diz o secretário de Estado adjunto da Agricultura e Pescas, Luís Vieira, o objectivo será “pedir flexibilidade na aplicação dos programas operacionais, no âmbito do Fundo Europeu de Pescas, de modo a poder dar apoio às comunidades piscatórias mais carenciadas”. Um apoio que chama “de carácter mais social” e que seja aplicado uniformemente nos quatro países
Fonte = Esquerda