A exploração indiscriminada dos aqüíferos subterrâneos responsáveis pela manutenção da perenidade do Rio São Francisco pode resultar em uma perda total das obras de transposição que o governo deseja implementar. A informação é do professor de Geociências José Elói Campos, da Universidade de Brasília, a partir de pesquisa sobre esses aqüíferos feita pela universidade.
O período de seca na região Nordeste, explicou, atinge todos os estados e a construção de poços para irrigar a plantação afeta o equilíbrio ambiental, pois a água não retorna ao aqüífero e nem vai para o rio. A perenidade do Rio São Francisco, segundo ele, é fruto do abastecimento desses aqüíferos.
“Está ocorrendo uma intensificação no processo de utilização desses reservatórios naturais, e se esses recursos não forem bem geridos, poderemos assistir daqui a 20 anos a uma diminuição na vazão do rio, resultando na perda de todas as obras de transposição”, disse Campos em entrevista ao programa Revista Brasil da Rádio Nacional AM.
O professor disse que essa exploração intensificou-se devido à vocação da região para a agricultura irrigada e à proibição de retirada de água de rios que são afluentes do São Francisco. Para o impasse entre o desenvolvimento da agricultura e a proteção dos aqüíferos, ele sugeriu a busca pela sustentabilidade do sistema, pois apesar de os reservatórios serem interessantes do ponto de vista da quantidade de água, eles são limitados.
O estudo foi realizado durante quatro anos no oeste da Bahia, divisa do estado com Goiás e Tocantins, que mostrou também que os reservatórios naturais são responsáveis por cerca de 40% do abastecimento do rio São Francisco no período da seca.
“O que aumenta a preocupação é que não vemos, em nenhum momento no projeto de transposição, menção ao aqüifero que é o grande abastecedor do São Francisco”, disse o professor.
(Fonte: Marcos Agostinho / Agência Brasil)