Canal imprescindível para o Rio Grande do Norte aumentar as exportações de seus produtos agrícolas e pescado, o Porto de Natal, para expandir, necessita de uma solução do poder público para a relocação dos moradores da comunidade do Maruim. A mudança se torna mais urgente com o projeto de implantação de uma marina entre a ponte Forte-Redinha e o Forte dos Reis Magos, um empreendimento com forte potencial para dar uma nova face ao turismo potiguar.
Orçada em 100 milhões de reais, vindos exclusivamente da iniciativa privada (investidores espanhóis), a marina terá capacidade para comportar 500 barcos. O espaço tem 25 hectares de ‘‘parte seca’’ (onde vão ficar hotéis, boites e restaurantes) e 25 hectares de ‘‘parte molhada’’, onde os barcos ficam ‘‘estacionados’’. A área onde eles ficarão ancorados terá um calado (distância do fundo do mar até o barco) de 12 metros.
De acordo com o secretário municipal de Turismo, Fernando Bezerril (veja a entrevista) , do início da obra (previsto para setembro) até sua conclusão, serão transcorridos em torno de dois anos. Nesta semana um documento sobre o projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (Conplam). O mesmo documento vai tramitar pelo Idema e pelo Ministério Público. ‘‘Os investidores são muito cuidadosos. Nada é feito sem o sinal verde dos órgãos. A sustentabilidade ambiental é uma das premissas mais defendidas por esses empresários’’, comenta Bezerril.
Maruim
Delimitada por um muro de aproximadamente 3 metros de altura, a comunidade do Maruim fica localizada nas Rocas, entre os boxes de venda de peixe do Canto do Mangue e as instalações do porto. O emaranhado de ruas estreitas é impregnado por um constante mau cheiro de esgoto. Os moradores reclamam do barulho dos guindastes, além da poeira vinda de um moinho. Uma rápida caminhada pelo local e constata-se um número relativamente alto de adolescentes grávidas.
A grande maioria de seus moradores vive da pesca. Estes têm uma resistência maior à idéia de sair do Maruim. Poucos são os que vêem a mudança como uma oportunidade para melhorar de vida. Muitos são céticos quanto à remoção, pois há muito tempo ouvem falar na idéia e ainda não viram ação efetiva.
Adailton Silva do Vale, 33, pescador, é morador do Maruim desde que nasceu. Porém a pequena casa onde mora é alugada. Não possui renda fixa e só volta a pescar no dia 15 de junho, quando encerra o período de defeso da lagosta.Ele acredita que a remoção pode até ser boa para os donos dos imóveis, mas os inquilinos vão ficar em uma situação incerta. ‘‘Tem inquilinos aqui que pagam até R$ 10,00 (isso mesmo, dez reais) de aluguel. Eu mesmo não possuo dinheiro para pagar R$ 180,00 ou R$ 200,00 por mês’’.
Já Francisca de Assis da Silva, 40, se sustenta produzindo lanches. Ela torce para que a comunidade não tenha que sair do local, mas, se isso acontecer, ela já tem convicção do lugar que irá: Zona Norte. ‘‘Como eu não vivo da pesca, não tenho o problema profissional da mudança’’, diz. Ela acredita que a maioria dos moradores quer indenização para escolher a próxima moradia. ‘‘Aqui é bom porque tudo é perto, mas falta segurança e o serviço médico não funciona. Às vezes a gente passa dois dias para ser atendido no pronto socorro do Hospital das Rocas’’, conclui.
Diário de Natal
Renato Lisboa
Da equipe de O POTI