Quem passa na estrada de acesso à barragem de Santa Cruz percebe ao longe, na superfície da água, diversos quadrados dispostos em linha reta: são a parte superior das cerca de 40 “gaiolas” flutuantes utilizadas para a criação de tilápias em cativeiro, em um projeto iniciado há três anos com o apoio da Emparn. Hoje, essa produção é uma das principais fontes de renda para a Associação de Piscicultores de Apodi e deve ser triplicada nos próximos meses, quando mais 100 estruturas do tipo serão doadas aos associados, pelo Dnocs.
“Embora a gente sempre tenha muita promessa. Dessa vez estamos começando a querer acreditar que esse projeto vai sair, porque as coisas estão se encaixando e não é possível que agora não se torne realidade”, observa o pescador Raimundo Fernandes Gurgel, de 47 anos. Há quatro décadas vivendo da pesca na região, ele fez parte do grupo de 11 pescadores que deu início à atual associação, três anos atrás.
Eram então apenas sete gaiolas, que permitiram uma produção inicial de 2.400 kg de tilápias, revendidas à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No segundo ano a produção subiu para 10 toneladas e este ano, em um período que vai de julho de 2008 a junho próximo, o contrato com a Conab é de fornecimento de 22 toneladas, mas deve haver sobra de peixes, que poderão ser comercializados na feira da cidade pelos 40 associados atuais, dos quais 28 estão na ativa.
Um dos líderes da associação, Francisco Juscelino Carvalho, o “Didi”, explica que o objetivo é multiplicar em muito essa quantidade para os próximos anos. “A previsão é que as novas gaiolas cheguem em março”, afirma. Em média, é possível tirar cerca de 350kg por gaiola, que possuem 4 metros cúbicos e garantem duas despescas por ano. “Estamos articulando para garantir a compra de pelo menos 30 toneladas no próximo ano pela Conab”, prevê Didi.
O presidente da Associação, Antônio Francisco de França, o “Manozinho”, confirma que a promessa é de entrega das novas gaiolas em março. Ao todo, o Dnocs deve enviar 320 para a região, das quais 120 ficarão com a Colônia de Pescadores de Pau dos Ferros e 200 com a de Apodi, sendo que metade irá para a Associação. “Nossa expectativa é agora com a possibilidade de termos uma unidade de beneficiamento em nosso município, para agregarmos valor ao peixe”, diz.
Atualmente, a Conab paga R$ 4,50 por quilo. Em uma experiência, os pescadores conseguiram vender a R$ 5,00, na feira de Apodi. Com a unidade de beneficiamento, esse valor se multiplicará, assim como os lucros. A estrutura faria parte dos planos do Dnocs para a região, assim que o novo projeto se consolidar.
Ração representa maior despesa
Os pescadores da associação de Apodi ganham, em média, R$ 280 por mês graças à criação das tilápias nas gaiolas, além do rendimento da pesca normal. Contudo, em metade do ano eles não retiram esse dinheiro obtido pela associação. A quantia é revertida para pagamento de empréstimos e custos da produção. O maior deles é com ração, que além de cara, tem de ser transportada de Natal para a cidade, ampliando as despesas com o frete. As tilápias levam cerca de seis meses da fase de alevinos, com 1g de peso, ao momento em que podem ser comercializados, com 600g em média. Dois meses os embriões passam nas “gaiolas berçários” e o restante nas destinadas aos peixes maiores. Nas primeiras, onde cabem até mais de 10 mil alevinos, a ração é fornecida cinco vezes ao dia e nas demais, onde se coloca em média 800 peixes, são três rações a cada 24 horas. A barragem está tão boa que temos conseguido fazer algumas despescas em quatro, cinco meses.
Parte da noticia = População quer melhor aproveitamento da barragem de Santa Cruz. Publicada em Tribuna do Norte
A Barragem de Santa Cruz foi inaugurada no dia 11 de março de 2002, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e por Garibaldi Alves Filho, governador do Rio Grande do Norte naquele período. Esta barragem é o segundo maior reservatório de água do estado do Rio Grande do Norte.