Analistas ambientais da Estação Ecológica dos Tupiniquins e da Área de Relevante Interesse Ecológico das ilha de Queimada Pequena e Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo, acabam de lançar um programa para intensificar a fiscalização na região das duas unidades de conservação, compostas por cinco ilhotas que guardam grande diversidade de fauna e flora. O objetivo é conservar o estoque pesqueiro local, já que o entorno das ilhas abrange áreas importantes para a reprodução de peixes, e proteger espécies ameaçadas de extinção que habitam as porções terrestres da Esec e da Arie. A proposta foi batizada de Programa Fiscalização Marinha na Estação Ecológica dos Tupiniquins e Entorno.
Para viabilizar as ações, a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade conta com o apoio da Sociedade Brasileira em Defesa do Litoral Brasileiro e da Fundação SOS Mata Atlântica, além da Marinha do Brasil, Polícia Federal e Ibama. “Essas parcerias são fundamentais para o programa, que contempla ainda encontros com as comunidades de usuários das ilhas nos municípios de Itanhaém, Peruíbe, Cananéia e Ilha Comprida, além de ações de fiscalização fora dos limites das unidades”, explica a chefe da Esec Tupiniquins, Lúcia Guaraldo.
A educação ambiental é a principal pauta das reuniões entre os analistas do ICMBio e a população que vive próxima as áreas protegidas por lei. “Esclarecemos os objetivos da Esec e da Arie e a importância delas no contexto do ecossistema local. Abordamos temas como o ordenamento da pesca e a legislação, além de apresentar o projeto de fiscalização. A intenção é informar para evitar que infratores usem o argumento da falta de conhecimento ao serem flagrados pescando na Esec”, revela Lúcia.
Ao estreitar laços com as comunidades usuárias das ilhas, como a dos pescadores artesanais, esportivos, mergulhadores e de caça submarina, aliados importantes passam a integrar o projeto. “Nas reuniões, temos conseguido apoio de algumas colônias de pescadores que estão ajudando a divulgar as unidades e seus objetivos de preservação. Eles apóiam e querem a fiscalização porque as grandes embarcações de arrasto, principalmente as parelhas, entram em áreas proibidas e afetam a pesca artesanal”, lembra o chefe da Arie da Ilha de Queimada Pequena e Queimada Grande, Carlos Renato de Azevedo.
No dia 20 de março uma equipe do ICMBio e dos outros órgãos envolvidos no programa de fiscalização saiu do porto de Santos rumo às ilhas da Queimada Grande, da Queimada Pequena e de Peruíbe. “No percurso abordamos barcos de pesca para checagem do pescado, da documentação e dos equipamentos de segurança. Três embarcações apresentaram irregularidades e foram apreendidas pela Marinha”, relata Azevedo.
Como as ações não se restringem apenas ao ambiente marinho, o responsável pela Arie adianta que placas de sinalização que servirão de alerta contra ações de predadores serão fixadas nas unidades. “Por estarem muito próximas ao continente, essas ilhas também são alvo de traficantes que buscam espécies exóticas da fauna e da flora. Na Ilha de Queimada Grande, espécies endêmicas, como a jararaca ilhoa (Bothrops insularis), sofreram uma redução drástica de indivíduos nos últimos anos”, conta o analista ambiental. “O local já foi considerado área de maior densidade ofídica do mundo, mas com a biopirataria o perigo da extinção é eminente. Em Queimada Grande, a cada dois passos que dávamos, encontrávamos uma cobra. Hoje, a cada duas horas, com muita procura, achamos um animal”, completa Lúcia Guaraldo.
A Esec dos Tupiniquins foi criada em 1986, compreendendo as ilhas de Queimada Pequena, Peruíbe, Cambriú e Castilho. A ARIE da Queimada Grande foi criada em 1984 e compreende as ilhas da Queimada Grande e da Queimada Pequena. Ambas são importantes abrigos para a fauna da região, principalmente devido à ocorrência de endemismos. A famosa jararaca ilhôa (Bothrops insularis) é um exemplo de endemismo da Queimada Grande e chama a atenção por ter um veneno capaz de paralisar suas presas em poucos segundos.
Ascom ICMBio
Márcia Neri