Já passei por muitas crises, mas nunca como esta“. Humberto Jorge, armador e presidente da organização de produtores OpCentro, está no sector da pesca há 15 anos. Conta já ter assistido e vivido situações complicadas que, “muitas vezes, com coragem e audácia” foram ultrapassadas. Mas o actual cenário de crise que ensombra o sector é, no seu entender, “o pior dos últimos tempos”.
Os armadores deparam-se, desde há três anos, com os sucessivos aumentos dos custos de exploração, sobretudo o preço do gasóleo. E as receitas, assegura, “são iguais e, nalguns casos, até menores que há dez anos”.
“Na prática, não há forma de recuperar o que se perde nos aumentos dos custos de exploração porque a pesca costeira é vendida em leilão, na lota, e está sujeita ao preço fixado por quem compra“, explica. Ora, “a crise afecta todos os sectores e quem compra está também em dificuldades financeiras”, sublinha.
A situação, a manter-se, terá como resultado, no seu entender, uma redução na actividade, nos próximos dois anos. Com consequências drásticas como o abandono da actividade de alguns profissionais. “Por muita imaginação que se tenha, sem receitas e com sucessivos aumentos de custos, não há muito a fazer”, frisa, defendendo que “só uma política de incentivos, quer do Governo português, quer da União Europeia pode ajudar as empresas a respirar”.
As dificuldades sentem-se, sobretudo, pelos profissionais que se dedicam à pesca costeira, como a captura da sardinha. “Muitos, sentem já um grau elevado de asfixiamento e, de Norte a Sul do país, há embarcações paradas e armadores que começam a pensar em abater as embarcações”, conta.
A organização a que Humberto Jorge preside representa cerca de 90 embarcações, de Peniche e Nazaré, de várias artes da pesca costeira. “Todos sentem as mesmas dificuldades”, assegura.
Equilibrar custos
Luís Santana, mestre da Afrodite, partilha as preocupações e confirma as dificuldades. Uma das situações mais preocupantes, considera, é o preço do gasóleo. “Nos últimos cinco anos, o preço subiu na ordem dos 500% a 600%”, conta, sublinhando ser “muito difícil conseguir equilibrar custos como este” com as receitas que, no seu caso (pesca da sardinha), são atractivas apenas no Verão e se têm mantido sem alteração há alguns anos. “No início dos anos 90, o meu pai, com este barco, foi campeão da pesca à sardinha, com 480 mil euros de pescado. O ano passado, as nossas receitas cifraram-se em cerca de 450 mil euros”, conta.
“A sardinha não é um peixe nobre e, por isso, nunca atinge os valores dos outros peixes”, diz.
Para além das questões financeiras, o sector debate-se, segundo Luís Santana, com outro problema. A renovação dos trabalhadores. A idade média dos pescadores rondará os 40 anos.
“Aparecem poucos interessados, sobretudo jovens”, conta, acreditando que, a exemplo do que já acontece em outros sectores, o futuro da actividade poderá vir a passar pelo recrutamento de mão-de-obra estrangeira.
Fonte = Jornal de Notícias – Portugal